O lado mais ligeiro do antílope

“Um mais um é um
Um menos um é um
A distância entre um e um é um
Uma paisagem presa nas garras de uma águia é um
Muitas maçãs a caírem de um quadro de Cézanne é um
Muitos grãos de trigo lançados num campo descoberto é um
Uma flôr de lotus entre dois futebolistas com os respectivos emblemas é um
Um carburador a rimar com o cajado de um pastor ou mesmo com as sandálias de um pescador é um
As contas de um colar ao acaso movidas por energia solar é um
Dois dolbermmans e esvaírem-se em sangue dentro de uma aposta é um
O epitélio de dois corações acampados ao luar é um
Uma consonância e uma dissonância a vibrar na noite é um
Alice a rir-se de si mesma em frente ao espelho é um
Flocos de neve a caírem na mais lídima esperança é um
Duas mãos ávaras dentro de um caminho faminto é um
Raios de oiro a iluminar o algodão que forra os sonhos é um
Fogos de artifício como líquenes ou azáleas na outra margem é um
Vários endereços dentro de uma escrita é um
Várias escritas a esvoaçarem sobre um endereço é um
O caminho entre estas palavras e a sua possibilidade é maior que todas as circumnavegações à volta de um
E nesse traçado o que fica ou vai de mim não cabe no quadrado de um”


José Acácio Castro nasceu a 27 de Janeiro de 1957, doutorou-se em Filosofia, é professor da Universidade Católica Portuguesa e tem publicado vários textos nos domínios do Pensamento Medieval, Pensamento Português e Poesia. Entre eles destacam-se as obras “O simbolismo da natureza em Santo António de Lisboa” (1997) e “Solstício de Março (2002)


Ficha técnica
Título: O lado mais ligeiro do antílope
Autor: José Acácio Castro
Editor: Fundação Manuel Leão
Coleção: Fogo das figuras
Número de edição: 1
Ano de Edição: 2003
N.º de páginas: 52
ISBN: 972-97155-9-9
Dimensões: 140x205x4 mm

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